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O título deste artigo foi ‘roubado’ ao talk-show de Ricardo Araújo Pereira, porque me parece ajustado a uma certa prática que se encontra disseminada, nomeadamente na praxis política.

Se há coisa fácil de se fazer é criar factos que não existem, fazer acusações que não se provam, falar de alto e por alto do que não se conhece, e praticar o desporto do bota-abaixo como exercício aceitável e legítimo.

É claro que quem exerce um cargo político tem de estar disponível para a crítica, tem de aceitar os constrangimentos de estar exposto e do seu trabalho ser constantemente alvo de escrutínio.

Nada disto seria problema se exercido num quadro de responsabilidade e de verdade. No entanto, este quadro é raro no exercício da política, onde a ética, o rigor e a verdade parecem não fazer escola, nem servir os interesses imediatos dos calendários eleitorais.

Se no jogo político parece valer tudo, esta circunstância é tão mais verdadeira quando se aproximam as eleições e quando os partidos querem caçar o voto a todo o custo.

Estes factos explicam as crises políticas, as alianças estranhas, as facas nas costas, e tantos outros mecanismos que são cada vez mais transparente para a população. Felizmente, a verdade é que estamos cada vez mais perante um eleitorado esclarecido, a quem já não é possível enganar com as típicas histórias do lobo mau, que já percebe o xadrez político e as suas jogadas e que, acima de tudo, percebe que o discurso e os seus meandros é, por natureza própria da linguagem, um exercício longe da realidade. A população já descobriu que o melhor é julgar quem gere pelos atos que pratica e não pelas histórias que se ouvem contar. A população já não vota de cruz, nem por uma suposta fé ou imposta fidelidade ao partido. A população finalmente começa a votar em consciência e com plena consciência do que está a legitimar com esse voto. A população vota pelos programas que lhes são apresentados, vota na capacidade de realização dos mesmos, vota no trabalho apresentado e vota porque acredita na realidade e não no discurso desconectado de um sentido real.

E é este estado de maioridade da população que muitos partidos ainda não entenderam, preferindo acreditar que ainda podem criar parábolas, histórias e ficções. Preferindo também acreditar que a população não tem memória, nem capacidade de decisão.

Os que assim pensam, não tardam a colher os frutos que semearam, porque fora do campo do discurso político cada vez mais valem as ações, a verdade, o trabalho e, sobretudo, a transparência e o respeito.

Os que teimam em trilhar outro caminho, os que se arvoram em únicos seres pensantes, o que se julgam donos de uma verdade suprema depressa ocupam o lugar que lhes está fatalmente destinado de “gente que não sabe estar”.

ÉLIA ASCENSÃO
Vereadora da Câmara Municipal de Santa Cruz

*Artigo de opinião publicado no JM / 08-05-2019

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