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E eis que entramos na reta final de mais um ano letivo. Professores e alunos (para além dos pais!), começam já a acusar o cansaço de mais um ano de desafios, aprendizagens, cumplicidade e também, em alguns casos, alguns desgostos.

Como docente especializada, tenho muitas vezes a difícil tarefa de não poder dizer aos pais aquilo que gostariam de ouvir. Sem lhes cortar as asas ou drenar-lhes a esperança, cabe-nos ajudá-los a criar expectativas realistas e ser uma rede de suporte que apesar de formal, muitas vezes se estreita e confina numa relação de amizade e de carinho onde os papeis, ainda assim, não se confundem. E engane-se quem acha que esse carinho, essa relação leva anos a criar-se! Há empatias que se estabelecem logo, outras que se trabalham, e há ainda aquelas que se forçam, pois, a verdade é que somos uma tríade “família-criança-escola” e sem qualquer um destes elementos, a relação simplesmente não se dá e torna-se muito mais difícil a interação entre todos e principalmente, a intervenção de continuidade à volta da criança. Sem que rememos na mesma direção, somos um barco à deriva!

Mas sem me querer desviar do assunto sobre o qual me quero debruçar, volto à questão do final do ano letivo e à realidade que muitas famílias enfrentam: a escolha de uma nova escola!

A escolha da escola não é, ou pelo menos não deveria ser, uma questão de tendência, de ser uma escola mais ou menos “in”, a escola da moda. Afinal estamos a falar do espaço onde os nossos filhos vão passar grande parte do seu tempo. Então, o que deve pesar na decisão da escola?

Depende! Depende de cada criança, de cada família, da ideologia de cada agregado…. Há, no entanto, aspetos que temos sempre de ter em consideração, principalmente quando temos crianças com necessidades especiais, sejam educativas ou não. Como são as turmas? São grandes? São pequenas? Que tipo de turma é? É uma turma que inclui já várias crianças com necessidades especiais? Se a minha criança estiver nessa turma, que tipo de resposta terá? Que recursos humanos há na escola para dar resposta às turmas e às especificidades da criança? São os suficientes? E quanto ao espaço? Como são os acessos? A criança tem espaços livres no exterior para brincar? Há um parque? E um salão polivalente para os dias de chuva ou atividades no interior? Há recursos humanos, nomeadamente pessoal não-docente, para acompanhar as crianças nos momentos livres e/ou de exterior? E a prática desportiva, onde se faz? Há recursos materiais para isso?

Então e a oferta formativa? Estão assegurados os docentes para todas as disciplinas? Usam-se livros ou já se usa o tablet? A matriz curricular tem condições de ser colocada em prática? A ideologia da escola vai ao encontro daquilo em que acredito e promove os valores que eu quero que o meu filho ou filha adquiram? A metodologia utilizada pela escola ou pelo docente é uma metodologia com a qual me identifico? Será a melhor metodologia para o meu filho atendendo às suas especificidades? E nos tempos livres… que atividades são disponibilizadas pela escola? A distribuição da carga horária é a adequada?

E o acesso à escola? É fácil lá chegar? Consegue-se estacionar bem para deixar a criança à porta? Será fácil para os pais serem recebidos? São os pais incluídos nas decisões da escola?

Outra coisa que importa saber, principalmente se não concordamos com isso, é se a escola é religiosa ou não. Se de alguma forma a doutrina religiosa está presente no dia a dia das crianças na escola. Parece-me pouco assertivo e até descabido escolher uma escola religiosa, mas estar de costas voltadas a tudo o que isso implica, questionar tudo o que é feito nesse sentido, desvirtuar o trabalho desenvolvido nessa área. E parece-me estranho porque a escolha dessas escolas é da inteira responsabilidade dos pais uma vez que todas elas são privadas! Não há escolas publicas que professem uma religião ou que incluam, ainda que de forma transversal, os seus ensinamentos na matriz curricular. Se escolho uma escola religioso assumo que aceito os ensinamentos e os momentos religiosos que a escola desenvolve na sua prática pedagógica. Se o vosso desagrado pela questão religiosa for maior do que a vossa capacidade de privilegiar tudo o resto que a escola faz, então sugiro que reconsiderem!

Não julguem com isto que estou a criticar alguém. Afinal, também eu já fiz uma escolha menos acertada para o meu filho! Uma escolha que me foi doendo cada vez mais e a cada ano que passava, mas à qual coloquei um fim!

E é por isto! É por tudo isto que vivenciei e que vejo em muitas famílias, que hoje me dirijo a elas. Antes de escolherem uma escola, sentem-se e conversem. Façam, se for necessário, uma lista das coisas que querem ver na futura escola do vosso educando. Uma lista com as dúvidas que têm relativamente à metodologia, aos recursos, ao modo de funcionamento. Visitem se possível a escola, questionem! Lembrem-se, é lá que o vosso filho vai passar grande parte do seu tempo. É lá que o vosso filho fará grande parte das suas aprendizagens. É lá que o vosso filho vai estabelecer relações com outras crianças, com outros adultos… É lá que vocês pais vão depositar a confiança e as expetativas… Tudo o que lá acontecer, direta ou indiretamente é também uma responsabilidade vossa.

Tenham principalmente atenção a tudo o que referi se as vossas crianças têm alguma necessidade específica. Todas as crianças são especiais, mas há umas mais “especiais” que outras porque têm especificidades diferentes, porque se deparam com barreiras ao seu desenvolvimento e à sua aprendizagem diferentes das das outras, e por vezes, por muita boa vontade que as escolas tenham, por mais inclusivos que sejam os seus projetos e os seus professores, não se verificam as condições para que se consiga dar a melhor resposta ou a resposta ideal. Falem com a equipa clínica que vos acompanha, terapeutas, psicólogos, pediatras. Peçam a sua opinião profissional!

A verdade é que os nossos filhos são da escola apenas por um período de tempo, mas são nossos filhos para toda a vida. A nossa escolha não pode ser feita de ânimo leve e de forma pouco ponderada, afinal, são os nossos filhos que lidam com o resultado da nossa decisão!

E como dizia uma colega na escola, oiçam com precaução as sugestões de outros pais de outras crianças pois “a camisola que a mim não me pica, a outros pode picar”. Não há duas crianças nem duas experiências iguais!

Boas escolhas!

Mariusky Gonçalves de Spínola

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