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Hoje trago-Vos aqui uma arma de construção maciça. Sim, de construção maciça. Como o são o Riso, ou a Música, ou a Fé ou a Amizade, como é, enfim, a Poesia.

Num pequeno poema, às vezes num só verso, esconde-se uma megatonelada de energia. Capaz de arrastar multidões, de levantar cidades, de unir vontades.

É assim, assim o creio eu, com o poema de Jorge de Sena “Uma pequenina luz bruxuleante”. Escrito por alguém que enfrentou a exílio e a perseguição, o abandono e o esquecimento, mas que era animado por aquela força, aquela chama, aquela luz que brilha indefectível, inspiradora, para sempre.

Deixo-vos o poema de Jorge de Sena:

“Uma Pequenina Luz”

Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumière
just a little light
una picolla… em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós
entre o bafo quente da multidão
a ventania dos cerros e a brisa dos mares
e o sopro azedo dos que a não vêem
só a adivinham e raivosamente assopram.
Uma pequena luz
que vacila exacta
que bruxuleia firme
que não ilumina apenas brilha.
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.
Muda como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Brilhando indefectível.
Silenciosa não crepita
não consome não custa dinheiro.
Não é ela que custa dinheiro.
Não aquece também os que de frio se juntam.
Não ilumina também os rostos que se curvam.
Apenas brilha bruxuleia ondeia
indefectível próxima dourada.
Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha.
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
Tudo é pensamento realidade sensação saber: brilha.
Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva: brilha.
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não: brilha.
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
como a exactidão como a firmeza como a justiça.
Apenas como elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui
no meio de nós.
Brilha.

Jorge de Sena

(in https://bibliotecasaeestarreja.wordpress.com/2020/09/10/uma-pequenina-luz-de-jorge-sena/, acesso a 19.01.2024)

 

Uma arma de construção maciça, portanto, capaz de mover a maior força existente à face da Terra

Vamos, pois, em frente!

Vamos sem medo!

Carlos J. M. Silva

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