Select Page

O ano letivo 2023-2024 caminha para o seu epílogo. Apesar de transparecer que a “malta” das escolas já está de férias, o certo é que a pesada burocracia que impingem aos Professores obriga a um desdobrar de esforços nesta reta final. É comum ouvir dizer-se que o “rabo do peixe é o mais difícil de esfolar” e fazendo uso deste adágio popular, é bem verdade que o trabalho administrativo dos Professores neste dealbar do ano letivo assume contornos preocupantes. E por várias razões, a saber. Se a tarefa dos Professores é ensinar, transmitir conhecimento, jamais o seu caminho poderá ser desviado desta premissa, até porque as exigências que os alunos colocam atualmente exigem um Professor atento, preparado, disponível. E estas variáveis começam a escassear devido ao envelhecimento da classe docente. São estes “velhos” que ainda seguram a Educação em Portugal (Ilhas incluídas), não se perspetivando nada de bom no futuro, pois as entidades governativas continuam a assobiar para o lado, remendando aqui e acolá, mascarando as feridas com maquilhagem duvidosa que rapidamente põe a nu as fragilidades do nosso sistema educativo. O desinteresse dos nossos jovens por uma profissão, que outrora era apetecível, demonstra a realidade pela qual pugnam os resistentes Professores. Não há estímulos que seduzam os nossos jovens a se aventurarem na nobre missão de ensinar. E aqueles que ainda se enchem de coragem depressa dão de frente com um contexto tão complexo que acabam por desistir, preferindo uma profissão “menor”, mas com menos chatices. Por outro lado, é justo referir que o problema é estrutural e assenta em 3 fatores que têm vindo a ser menosprezados: 1. Falta de levantamento das reais necessidades do sistema educativo onde se prefere tomar medidas de gabinete em vez de ir para o terreno verificar in loco as fragilidades, as oportunidades e os reajustamentos; 2. Descrédito da Profissão Docente assente no alheamento dos sucessivos governos em valorizar o papel do Professor, transformando-o num mero funcionário administrativo com funções letivas. Aqui importa é preencher “papelada” que sustenta as estatísticas que promovem o ranking e criar “separatismos” numa classe que se quer unida, coesa e forte; 3. Visão. Ao longo dos últimos anos assiste-se ao desmembrar de cursos superiores direcionados para a docência, pois foi passada uma mensagem de excesso de Professores e Educadores onde a procura era maior que a oferta existente. Esqueceram-se foi que também os docentes têm direito à reforma.

E eis que chegamos a um beco aparentemente sem saída. A realidade é que faltam Professores e não pode ser escamoteada ao ponto de se ignorar o problema. E, desviando o assunto para um contexto micro, a Madeira entrou numa espiral preocupante. Foram identificadas várias lacunas ao longo do ano letivo que agora finda e a Secretaria da Educação foi reparando as fissuras com corretivos rápidos cuja eficácia tem termo de validade. Os Docentes resistentes desdobraram-se, qual polvo humano a esgotar todos os seus “tentáculos” para chegar a todas as solicitações, mas mesmo assim verificou-se falta de recursos humanos que dessem robustez a um sistema educativo regional que já foi o melhor do país. Neste momento, a Educação na Madeira é uma Via Láctea sem estrelas, vagueando na escuridão interestelar, sujeita ao “lixo espacial” e à mercê de políticas desajustadas da realidade. E se o contexto já era, de si só catastrófico, a previsível debandada de docentes para o Continente vai agudizar mais o problema. Porque, convenhamos, o desejável era que viessem docentes… não que fossem embora!

Uma nota final para a Educação Especial. As profundas transformações que se verificaram com a operacionalização da Escola Inclusiva não foram acompanhadas com o devido reforço de profissionais. Na verdade, a falta de docentes especializados foi notória com implicações nas aprendizagens dos alunos com NEE. Não se pode reduzir a números e estatísticas. Os alunos com NEE precisam de qualidade nas intervenções e esta não se mede com análises quantitativas. Urge tomar medidas, mas medidas robustas que permitam cativar jovens para a docências e, acima de tudo, recuperar aqueles que já o foram e desistiram. É preciso reabilitar a profissão com oferta formativa superior sedutora com perspetivas de futuro estável. Dotar as nossas Universidades de mecanismos que permitam reativar cursos tradicionais, mas atualizando-os ao contexto atual. O futuro do nosso país depende do que fizermos com os nossos jovens hoje. E o tempo começa a escassear.

José Carlos Mota

Observação:

– A responsabilidade das opiniões emitidas nos artigos de opinião são, única e exclusivamente, dos autores dos mesmos, pois a defesa da pluralidade de ideias e opiniões são a base deste espaço criado no site;

– Os posicionamentos ideológicos e políticos do JPP não se encontram refletidos, necessariamente, nos artigos de opinião contemplados nesse mesmo espaço de opinião

Pin It on Pinterest

Share This