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O título em forma de pergunta justifica-se porque, infelizmente, parece que ainda é preciso justificar e responder aos que questionam a utilidade do Dia Internacional da Mulher, ou então que o reduzem a uma saída noturna, a rosas e postais ou à ‘nobre arte’ de fazer xixi em pé.

Infelizmente o dia ainda é necessário, porque apesar de pouco, mais vale um dia em que se discutem efetivamente questões esquecidas ou secundarizadas a não existir dia nenhum. O pior que pode acontecer nestes casos é o silêncio se institucionalizar como única garantia de que está tudo bem, e de que não se falar dos problemas é uma forma eficaz de os resolver.

A verdade, contudo, é que em termos de direitos e igualdades há muito ainda que discutir e sobretudo que resolver. E nem é preciso recorrer aos exemplos mais radicais de países onde a vida da mulher não conta, onde esta não tem direito de voto, onde não tem voz, e onde os direitos humanos chegam apenas aos homens. São casos limite, mas entre esta realidade e aquela que nos é próxima, existem tantas outras que refletem o baixo grau de civilização relativo à igualdade de direitos.

Quando em Santa Cruz se falou da possibilidade da Criação de um Conselho Municipal para a Igualdade, não tive dúvidas da sua pertinência e necessidade.

Sim, ainda há um longo caminho a percorrer para a igualdade. E esta igualdade está por conquistar em coisas tão básicas como ordenado igual para trabalho igual, repartição de tarefas domésticas, e para o fim de uma visão ainda machista e de superioridade do homem que, infelizmente, ainda contamina não só a forma como a mulher é encarada no mundo laboral, mas também, e como recentemente se viu, as decisões judiciais.

Quando um juiz, de um tribunal superior, usa argumentos falaciosos, mistura a moral religiosa com a lei, e deixa os seus acórdãos serem sustentados na sua visão machista do mundo, algo vai mal.

Não se pode julgar problemas tão sérios como a crescente violência doméstica com visões sexistas de que à mulher assiste um dever moral de obediência ao homem, e que práticas desculpadas aos machos, como a infidelidade, têm caráter mais gravoso e criticável quando praticados pelas mulheres.

A violência doméstica tem assumido, nos últimos tempos, uma das faces mais graves e vergonhosas da desigualdade e da violência contra as mulheres. E o problema tem raízes profundas numa certa permissividade, numa cultura machista, numa ideia de dominância masculina que é ainda admitida pela sociedade e por muitas mulheres, que calam, consentem e desculpam até que é tarde demais.

12 mulheres já morreram este ano vítimas de violência doméstica. Um número que nos devia envergonhar a todos, mas sobretudo nos preocupar.

Enquanto este estado se mantiver está justificado o dia, as comissões, os debates e tudo o que ajudar um verdadeiro caminho para a igualdade e para o fim da infâmia.

ÉLIA ASCENSÃO
Vereadora da Câmara Municipal de Santa Cruz

*Artigo de opinião publicado no JM / 13-03-2019

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