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Em vésperas de mais um arraial em homenagem a Nossa Senhora do Monte, padroeira do Município do Funchal e da Região Autónoma da Madeira, importa recordar a importância que esta festividade tem para os católicos praticantes e para toda a população da região que, em moderno conceito de romagem, dirige-se anualmente a esta freguesia, reescrevendo a história de uma tradição.

Durante este período que antecede o dia 15 de agosto, por entre as nove novenas que os sítios promovem em grupo e um outro de forma solitária (tão solitária quando a sua distância ao centro da freguesia), ouvem-se suspiros de ansiedade, de reserva e até de medo. É difícil desprender-se da tragédia que ocorreu no dia e hora errados, mas que ninguém podia prever, ceifando a vida de mais de uma dezena de pessoas, algumas delas por falta de assistência imediata, devido ao congestionamento das acessibilidades e a atrasos na opção médica a adotar em contexto hospitalar. Mas sobre isto não se fala, prefere-se canalizar as atenções para uma árvore que, tombando, não estava doente, conforme atesta o relatório pericial oficial. Uma desgraça, um grande azar, uma dor que familiares, amigos e os que escaparam por um triz nunca irão esquecer.

Passado um ano, há ainda assuntos por resolver, a maioria de cariz administrativo e judicial que só o tempo colocará um ponto final. Politicamente, continua a caça ao homem, inventando estratagemas para crucificar alguém, nem que seja o elo mais fraco. São relatórios facebookianos, sem fundamentação técnica, são relatórios pro bono (haverá almoços grátis?), são meias verdades, são audições parlamentares recheadas de cartões laranja, tudo orquestrado para satisfazer o maior partido da oposição camarária e não o bem-estar dos romeiros que durante uma semana chegam à freguesia verdejante da cidade.

A Festa do Monte irá acontecer por mais que se esforcem para o contrário. O seu pulsar será fraco, respeitador da dor alheia, mas provido de motivação em reerguer-se, aos poucos, naquilo porque sempre foi conhecida: um mar de devoção. Novas velas serão acesas no Largo da Fonte, rezas e promessas serão proferidas cheias da mais pura intenção e privacidade, sem delas fazer campanha política, numa ofensa à inteligência dos fregueses.

Não sendo natural do Monte, residi lá a maior parte da minha vida, tendo sido testemunha do marco que o arraial representa para os seus paroquianos e para a região em geral.  Não peço que esqueçamos a tragédia e os outros escândalos que envolveram a freguesia durante o último ano, mas saibamos separar o trigo do joio… Vamos todos ao Monte e fé em Deus!

*Artigo de opinião publicado no Tribuna da Madeira / 10-08-2018

Patrícia Spínola
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