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“Revolução a caminho” é o título de uma das notícias que circula atualmente
nas redes sociais que informa que no Reino Unido os médicos irão começar a
prescrever exercício físico “caminhadas, aulas de cycling e passeios de
bicicleta”. A iniciativa tem vários objetivos mas salienta-se o objetivo de
reduzir o número de casos de cancro e problemas de coração, aliviar a pressão
do sistema de saúde britânico e reduzir o número de carros em circulação,
maioritariamente em viagem de curta duração.
É de extrema importância sublinhar que esta medida permitirá mudar
consciências sobre a prática do exercício físico mas é de igual importância
pensarmos sobre o efeito que terá e exequibilidade.
Em primeiro lugar a prescrição é feita por um Médico e não por um Técnico
Especialista em Exercício Físico? E essa prescrição é feita através de que guias?
Que linha orientadora será aplicada? E de que forma é administrada? Ou
acompanhada? Qual é a dose? E porque razão só há prescrição de treino
cardiovascular? Não está previsto o treino de força? Mesmo mediante imensas
evidências científicas que comprovam as suas vantagens?

Num cenário hipotético temos um indivíduo do sexo feminino, com 65 anos,
obeso, hipertenso medicado, sedentário e que nunca praticou exercício físico
regularmente. Terá como indicação praticar treino cardiovascular. Outro
indivíduo da mesma idade e género mas com pouca massa gorda, pouca massa
muscular e com diagnóstico de osteoporose terá a mesma prescrição? Ou
teremos o primeiro a frequentar o Cycling e o segundo a fazer caminhadas?
No exercício físico, tal como nos medicamentos importa saber como tomar, qual
a dose, quais os medicamentos que mais se adequam ou os que não podem ser
administrados devido a outras patologias.
Sem o prescritor mais indicado não sabemos se este “medicamento” é adequado
e ainda perdemos os pilares da prescrição de exercício físico e por conseguinte o
treino deixa de ser seguro, eficaz ou motivador.

No nosso país ainda existe um logo caminho a percorrer no sentido da redução
do IVA aplicado aos ginásios ou de apoios de incentivo à pratica do exercício,
mas talvez o caminho de replicar o que acontecerá no Reino Unido faça parte de
um futuro mais próximo. É fulcral que as entidades que atuam e representam as
áreas da saúde, do exercício físico e do fitness possam colaborar para encontrar
soluções que sirvam melhor a nossa população. Esperemos que se possa fazer
semelhante, com as devidas e necessárias adaptações, para fazermos mais e
melhor e para reduzirmos o número de mortes por problemas cardiovasculares,
o número de casos de cancro, o número de depressões e de diagnósticos de
ansiedade e a pressão sobre o sistema nacional de saúde e consequentes custos
que esta acarreta.

João Pedro Gonçalves

Observação:

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