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Gilles Lipovetsky proferiu, na passada sexta-feira, em Coimbra, mais propriamente na Coimbra Business School, uma conferência sobre a sociedade do hiperconsumo, intitulada “A Sociedade do Hiperconsumo: Seremos Nós Mais Felizes?” Reputado filósofo e sociólogo francês, membro do Conseil d’Analyse de la Société, órgão consultivo do primeiro-ministro francês, é autor de uma vasta obra sobre as transformações da sociedade contemporânea. A sua reflexão sobre a sociedade do hiperconsumo resulta da sua perceção sobre esta nova realidade social de excesso de consumo, que transpondo para a realidade portuguesa, resultou no aumento de um certo descontrolo social ao nível dos limites dos gastos financeiros e que culminou com o aumento do endividamento das famílias.

A Região Autónoma da Madeira seguiu a mesma lógica por via de um certo descontrolo sobre o limite das despesas financeiras das famílias, muito devido às facilidades de empréstimos bancários e à publicidade e marketing comercial que tiveram um papel persuasor sobre a população, algo que até alterou alguns hábitos de consumo. Assim, constata-se que a população perdeu um pouco da sua liberdade e a sua dimensão crítica face à nova realidade social. Particulares e empresários deixaram-se levar pelo facilitismo e pela superficialidade nas decisões pessoais e profissionais (principalmente no ramo empresarial e organizacional), relativamente à aquisição de bens, tendo resultado em assunção de novas despesas, logo mais dívida para pagar.

Na gestão dos dinheiros públicos aconteceu algo muito semelhante. Tivemos um Governo Regional que, na onda do facilitismo e do despesismo fácil, foi construindo e assumindo dívida sem pensar nas consequências desta má gestão dos dinheiros públicos. Daqui resultou uma dívida oculta, a construção de infraestruturas que agora não têm utilidade, outras que desempenham uma outra função que não aquela para a qual foram construídas e, ainda, outras infraestruturas que começam a dar sinal de degradação, porque não existe dinheiro para a sua manutenção. Temos escolas a encerrar e outras a fundir, porque não se fez um planeamento prospetivo e cuidado, relativamente ao futuro, tendo em conta as questões demográficas ou, porque, na altura em que essas escolas foram construídas havia um “espírito maligno” que “obrigou” a que se fizessem essas mesmas construções para benefício de grupos económicos? Temos ‘mamarrachos’ e monstros de betão atualmente sem utilização. Porquê?

Para 2019 temos a promessa deste Governo Regional de inauguração de várias obras. Algumas são realmente necessárias, só pecam por tardias e por só surgirem em vésperas de eleições. Mas também temos um Governo Regional que vai contrair um empréstimo de 355 milhões de euros para amortizar empréstimos (dívidas)!

Em suma, voltamos ao modelo político do passado, construir para inaugurar em vésperas de atos eleitorais, modelo este que levou ao descrédito dos políticos e da política. O povo está cansado de só ver surgir infraestruturas para melhoria da sua qualidade de vida em vésperas de eleições! A agir assim, o Governo Regional – PSD, apenas ratifica aquilo que se afirma: foram mais de três anos de “desgovernação” e um ano para inaugurar à pressa, porque há novamente eleições.

*Artigo de opinião publicado no Diário de Notícias / 20-01-2019

Paulo Alves
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