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Aproveitando a “febre” da Saga Star Wars que se instalou de armas e bagagens na Região, trago para reflexão outro tipo de Heróis que habitam na nossa Pérola do Atlântico e que não têm o mesmo mediatismo que o Darth Vader ou o Baby Yoda.

Recentemente veio a público, impulsionado pela força das redes sociais, um caso de bullying a um aluno portador do espetro autista numa escola da Região. E, tratando-se de um caso de extrema gravidade, o mesmo foi abordado de forma leviana pela comunicação social com imprecisões que podem e devem ser refletidas. Em primeiro lugar, toda e qualquer ação de intimidação física e/ou psicológica é objeto de reprovação social por se tratar dum ato que atenta a dignidade da pessoa humana. Depois, analisando a questão sob o prisma escolar estamos perante uma população que está em processo de crescimento na busca de aprendizagens que suportem a sua identidade como cidadão pleno de direitos e deveres. Numa sociedade dita desenvolvida existem códigos de conduta assentes em regras sociais estabelecidas e consagradas na Constituição e na Declaração Universal dos Direitos Humanos sob a égide das Nações Unidas.

A Escola sempre foi vista como um espaço de aprendizagens onde as crianças são desafiadas a absorver conceitos que lhes permitirão construir uma atitude crítica face ao Mundo que os rodeia. Os professores são “instrumentos” nessa mesma construção, cabendo a cada criança utilizar as ferramentas disponíveis que melhor se adaptem ao seu perfil sociopsicológico. No entanto, é comummente afirmado que para “a escola ser uma família, a família deve ser a primeira escola”. A família, sem dúvida, tem um papel fundamental na construção do caráter e da personalidade de uma pessoa. Afinal, é no seio da família que as crianças têm o primeiro contacto com a existência do outro, o que as faz desenvolver noções de afetividade e de solidariedade. É desse contexto que as crianças extraem princípios relevantes e valores éticos. Depois, são estes princípios que as crianças “carregam” diariamente para o espaço escolar e os utilizam nas interações sociais que estabelecem com os pares. Ora, se estes princípios não são operacionalizados somos confrontados com episódios como aquele que se passou recentemente. Um indivíduo portador do espetro autista é tão cidadão como outro qualquer. Tem os mesmos direitos apesar das condicionantes inerentes à sua condição patológica. Por ter dificuldades relacionais, a atenção que devem ter e merecem vai ao encontro das suas necessidades. Mais grave é conhecer-se a problemática e “assobiar-se” para o lado, aplicando soluções que parecem milagrosas mas acabam por ser “pólvora seca” na realidade que assistimos diariamente nas escolas. O Governo Regional através da Secretaria da Educação, ciência e tecnologia tem de ser mais “robusto” nas medidas a implementar. Tem de ser parte da solução e não discípulo do problema. E o problema está identificado: faltam recursos humanos às escolas para se efetivar a verdadeira escola inclusiva. É preciso dar Voz aos nossos Super-Heróis e às suas famílias. Ao proporcionar o seu bem-estar social, estaremos a contribuir decisivamente para a sua integração na sociedade e, quiçá, no mercado de trabalho. Porque competências eles têm… precisam é de tempo e espaço para as consolidar ao seu ritmo, sem exigências, pressões ou enxovalhamentos. Mais do que “diminuir” estes alunos, devemos acarinhá-los, incentivá-los a serem melhores dia a dia. E esta sensibilização deve começar em casa porque as nossas crianças reveem-se nos modelos familiares. E a culpa jamais pode morrer solteira!

Zé Carlos Mota

Observação:

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