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A falência dos partidos tradicionais não está numa qualquer tragédia inevitável da política enquanto instituição. Aliás, raramente a falência do que quer que seja está na instituição em si, mas sim no uso que dela se faz. E quando aqui falamos de uso, falamos concretamente de um uso incorreto.

Com a proximidade de eleições esta falência dos partidos tradicionais e este uso incorreto ficam em destaque, nomeadamente pelo desespero que costuma assaltar os partidos tradicionais, que deitam mão a tudo quanto é iniciativa e promessa, sem a mínima preocupação de as adequarem às reais necessidades da população, ou de, pelo menos, as sustentarem na realidade e no conhecimento das carências reais.

Esta cegueira eleitoral, que também pode ser vista como pura manobra demagógica, já começou “a dar frutos” por cá.

É ver os partidos do arco tradicional a desdobrarem-se em promessas, em anúncios, em tentativas desesperadas de conquista do poder.

Se uns deitam mão a obras de milhões ao sabor da vontade dos seus militantes, outros nem têm a preocupação de ver o que está no terreno, ou mesmo o que já foi feito.

Falemos, então, de casos concretos. O PSD, acordado de um longo sono da dita renovação, que não passou de um sonho, atira obras ao sabor do vento, prometendo rotundas milionárias, capelas, jardins em escarpas e expropriações milionárias aos amigos do regime. De caminho, apregoa um sucesso governativo que o povo não sente, mas que o PSD quer acreditar que possa embalar na canção do bandido.

O PS, que, como se sabe, já tem as eleições como ganhas, entra na mesma lógica. Só para dar o exemplo do caso de Santa Cruz, das três medidas anunciadas, duas já foram concretizadas pela atual gestão da autarquia. O que revela um desconhecimento total da realidade deste concelho. Só um desconhecimento total poderia prometer um centro de recolha animal e um veterinário, que já existem, e, ainda, uma rotunda que já está em fase de concurso.

A coisa seria risível, não fosse um tanto ou quanto trágica, no sentido de que a cegueira política pode ter consequências nefastas para o futuro de todos nós.

E enquanto se brinca com estas coisas, os madeirenses desesperam por soluções de fundo na saúde, na mobilidade, na defesa eficaz e intransigente daquele que é o nosso principal setor económico, que é o Turismo.

Não, caros amigos, a política não está em crise. Os partidos tradicionais sim, estão. Uma certa forma ligeira de fazer política está em crise. Um profundo alheamento da classe política face aos problemas reais da população é uma crise profunda de valores e de prioridades.

É preciso, por isso, salvar a política da sua nobre função. É preciso separar o trigo do joio, mesmo quando o joio promete ser trigo.

*Artigo de opinião publicado no Diário de Notícias / 26-07-2019

Filipe Sousa
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