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Este primeiro ano de mandato, integrado no executivo da Junta de São Martinho, passou “zunindo”. Já não ouvia esta expressão há muito tempo. Ela representa, de facto, a velocidade com que os dias se consomem quando andamos mergulhados nesta vida. Escutei-a um dia destes quando, em Lisboa, acompanhando um grupo de fregueses de São Martinho, conversávamos sobre o passar dos dias. São pequenas conversas que começam com o estado do tempo e que, com o percorrer das entrelinhas, conseguimos perceber as dificuldades que as nossas gentes enfrentam, quais os seus anseios e objetivos e onde, muitas vezes descobrimos o caminho por onde devemos ir. As viagens dinamizadas pelas Juntas de Freguesia não são simples passeios em grupo. Para nós, são delineadas com o objetivo de dar mais do que aquilo que as pessoas esperam. É promover o enriquecimento cultural dos nossos fregueses, em ambiente de convívio social. É por aí que queremos ir.

Nesta viagem por zonas históricas de Lisboa e arredores, senti orgulhosamente essa sequidão insaciável do saber das gentes simples. Uma sede que quanto mais é satisfeita mais aumenta. Ao ver o Mosteiro dos Jerónimos e ao contemplar a Torre de Belém, ao escutar as histórias misteriosas de Sintra, a sua riqueza cultural e os seus palácios, nos passeios pelas cosmopolitas Cascais e Estoril, enquanto contemplavam o horizonte no Cabo da Roca ou no Cabo Espichel, vi gente a consumir até à última gota de informação por cada sítio em que passava. Vi as gentes da minha freguesia saírem carregadas de história do Palácio Nacional de Mafra, cresceram em cada esquina dos monumentos de Santarém, nas aventuras do porto de pesca tradicional de Peniche ou viajando no tempo até aos ambientes medievais de Óbidos. Em Setúbal, senti os passos firmes das nossas gentes enquanto atravessavam a Avenida Luisa Todi, como se escutassem a voz da cantora lírica e assim seguiram até à Praça do Bocage.

Procurando dar um maior cunho cultural a esta deslocação, a Junta de Freguesia de São Martinho surpreendeu os seus fregueses com uma noite no Teatro São Luiz. Juntos, assistimos à apresentação no continente dos Mutrama, um projeto de recriação da música tradicional madeirense e que contou com a presença das vozes de Salvador Sobral e de Maria João. Sim, levámos os nossos fregueses ao São Luiz!!!…

A ansiedade de quem quer mais sente-se em cada passo e sempre que enfrentam um novo sítio. Em frente ao Oceanário, os olhos não param com receio de esbanjar algum pormenor. Um dos fregueses, do alto dos seus muitos anos de vida, confidenciou-me à entrada que a neta esteve cá há uns anos atrás. O rosto não conseguia esconder o contentamento de, agora, ser ele a explorar um dos maiores oceanários do mundo. Mais à frente, reparei na atenção com que escutava a explicação sobre a importância dos mares e senti nesse preciso instante que estava a participar num instante maior da vida de alguém. À saída, agarrou-me no braço e sussurrou-me ao ouvido “já posso dizer à minha neta que também eu já fui ao Oceanário”. Deixou-me para trás e entrou no autocarro com um sorriso orgulhoso. Senti nesse instante que estamos na rota certa. Não queremos um povo formatado, queremos pessoas com vontade própria que procurem mais conhecimento e que, em cada dia, anseiem em serem maiores. O primeiro ano de mandato já passou “zunindo“, dentro de três anos seremos escrutinados e quando isso acontecer, tenho a certeza que seremos escrutinados pelos melhores. Nesta viagem vimos que Camões descreveu o Cabo da Roca como “onde a terra se acaba e o mar começa”. Para as gentes da ilha, onde a terra se acaba, há sempre um imenso mundo que começa. E em São Martinho é por aí que vamos.

RICARDO SILVA PESTANA
Vogal no Executivo da Junta de Freguesia de São Martinho

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