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Este ano, o tema do Dia Mundial da Saúde, celebrado no passado dia 7 de abril, foi “Saúde para todos”. Naturalmente também foi assinalado na Região, com iniciativas promovidas pelas entidades governativas desta área. Contudo, na Região Autónoma da Madeira, são milhares os doentes que “sentem na pele” as deficiências do sistema regional de saúde e certamente não têm motivos para celebrar. Falamos dos doentes que esperam e desesperam por uma cirurgia ou até por uma consulta de especialidade; dos doentes que são chamados para se apresentarem no hospital para serem sujeitos a uma cirurgia, só que depois são enviados para casa, sem terem sido submetidos à respetiva cirurgia, com a promessa de que vão voltar a ser chamados, só que não sabem quando. Os meses passam e nada acontece! Será que têm motivos para celebrar aqueles que precisam de medicamentos da farmácia hospitalar e não têm porque há ruturas consecutivas. E os utentes que têm de pagar 250 ou 300 euros por uma ressonância no privado, devido aos constantes constrangimentos com a máquina existente no hospital ou até por falta de pessoal técnico especializado?

O SESARAM recentemente fez notícia que expurgou cerca de mil doentes das listas de espera durante o ano 2017. Até poderia ser um bom motivo para celebrar se estes dados não estivessem camuflados por uma triste realidade: muitos destes utentes esperaram e desesperaram por uma consulta de especialidade e acabaram por recorrer ao privado. E é assim que o serviço regional de saúde reduz as listas de espera!

E aqueles que têm de recorrer à rede de transportes de doentes não urgentes, sob a responsabilidade do SESARAM e se deparam com problemas constantes, chegando mesmo a não ter transporte?

Os utentes madeirenses não teriam mais motivos para celebrar se a Saúde fosse realmente um setor prioritário para o Governo Regional? Se este Governo resolvesse com maior celeridade os problemas que afetam este setor?

Palavras de apreço e gratidão para todos os profissionais deste setor: médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares, profissionais que se dedicam a dar o seu melhor em condições adversas, que os obrigam a arranjar alternativas para colmatar as lacunas num setor tão vital para todos os madeirenses e porto-santenses.

O Dia Mundial da Saúde surge como uma oportunidade fulcral para alertar a sociedade civil e, principalmente os nossos governantes, para uma reflexão sobre a temática da Saúde ou falta dela.

Desta reflexão não podem ser descuradas as iniciativas de promoção de hábitos de vida saudáveis. E, relativamente a este assunto, há a lamentar o facto do Programa de Promoção da Saúde Oral na Região Autónoma da Madeira ter sido suspenso em 2010 por causa de um Plano de Ajustamento Económico e Financeiro (PAEF) – que surgiu para pagar dívida de exageros da governação regional – bem como “pela falta de diálogo do conselho de administração do SESARAM”, de acordo com as palavras do representante da Região, no Conselho Diretivo da Ordem dos Médicos Dentistas.

Recorde-se que em 2010, cerca de 20 mil crianças, com idades entre os 3 e os 13 anos, estavam envolvidas neste programa. Tinham acesso a consultas de medicina dentária e tratamentos preventivos, nomeadamente a aplicação do selante de fissuras. De acordo com o representante da RAM no Conselho Diretivo da Ordem dos Médicos Dentistas, no âmbito deste programa, chegaram a ser vistas cerca de 3550 crianças por ano e foram aplicados entre 7 e 8 mil selantes.

Saliente-se que no âmbito deste programa eram realizadas visitas periódicas às escolas da Região por técnicos que dinamizavam sessões de promoção de saúde oral e uma carrinha equipada com um consultório dentário, oferecida à RAM pelo falecido Comendador Horácio Roque. E agora onde está essa carrinha? A degradar-se e a servir como veículo de transporte de materiais diversos para os centros de saúde da região.

Em síntese, urge uma aposta séria na Saúde, um investimento proporcional às reais necessidades deste setor. Basta de “tapar o sol com a peneira”! É preciso definir prioridades a pensar nas pessoas, em prol dos utentes do Serviço Regional de Saúde e não em defesa de interesses instalados, que subvertem a verdadeira política de “saúde para todos”.

*Artigo de opinião publicado no Diário de Notícias / 20-04-2018

Paulo Alves
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