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Os Três Reis Magos, segundo a Igreja Católica, são ilustres monarcas que teriam visitado Jesus logo após o seu nascimento, presenteando-o com diferentes riquezas. De igual forma, 2019 traz consigo um serpentear de aspirantes a rei ou, por outras palavras, a Presidente do Governo Regional da Região Autónoma da Madeira, após consagração pela assembleia legislativa regional, fruto da vontade popular do próximo dia 22 de setembro. Estes reis, bem penteados, bem vestidos, divinamente perfumados e com discurso ensaiado, idolatram não um Homem (o Povo) mas uma cadeira que parece intermitentemente desocupada, tal é a apatia do atual líder perante a realidade regional. Assim, é compreensível que o seu alcance pareça de fácil acesso, tais são as lacunas governativas criadas no atual mandato e aquelas, antigas, cujo fosso foi aprofundado em vez de resolvido.

Para nós, eleitores que vemos a dança das bancadas, à distância mas com maior amplitude, salta-nos à vista as medidas populistas (os tesouros dos Reis), anunciadas há meses para janeiro de 2019, mas postas em prática de forma paulatina, operacionalizando-as pelos meses que antecedem a campanha eleitoral oficial, mantendo o bico doce de quem pouco tem e com pouco se satisfaz. Como imagem de marca da velha guarda, a pobreza e a necessidade obrigam a que parte do povo se sujeite a essa manipulação enquanto outra parte, a classe média agora visada em diversas medidas, analisa de modo discreto as verdadeiras intenções de um governo que, em funções há quatro anos, só agora acordou para os problemas da baixa natalidade, das baixas pensões e de outras carências sociais flagrantes.

Por outro lado, a população também olha de soslaio para aquele Rei que traz uma caixa reluzente mas sobre a qual não se extrai objetividade. Abano após abano, nada se ouve sobre o subsídio de mobilidade ou o ferry o ano inteiro. Abano após abano e continua o povo sem saber se o Estado transferirá para a região verbas em atraso, imprescindíveis para os seus projetos. Abano após abano, a ausência de substância abre espaço à teoria do engodo. Já diz o ditado e muito bem, “cuidado com o cão que não ladra e com o homem que não fala”.

Enfim, muitos Reis percorrerão caminhos e veredas nos próximos meses. Com eles trarão brindes que esperarão vir a transformar-se em favas contadas. E terão alguma razão se a população se deixar ofuscar pelo (en)canto da Sereia, pelo Batman, salvador da cidade, ou pela Cigarra da boa-vida que, depois de dar muita música, descobriu que iria passar fome. No entanto, pela periferia, há muitas formigas trabalhadoras, sem recurso para grandes ofertas pois não aceitam subornos das Aranhas do prado regional cujas teias se estendem por todo o lado e se cruzam com o Polvo do alto-mar. É certo que a formiga é pequena, mas juntas são um exército organizado, eficiente e produtivo. São a aposta certa na pluralidade, uma praga necessária para combater a corrupção e o clientelismo.

*Artigo de opinião publicado no Tribuna da Madeira / 04-01-2019

Patrícia Spínola
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