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O nosso atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a quem eu, antes de começar este texto devo dizer que, muito admiro, veio recentemente a público, do cume da sua sabedoria, referir que se sentia envergonhado por “sermos, em 2017, e agora já em 2018, das sociedades mais desiguais e com tão elevado risco de pobreza na Europa”.

Eu comungo de tal vergonha, já não comungo é da estratégia de combate a essa desigualdade, ou da ausência da mesma.

No seguimento deste raciocínio recomendo que se faça um exercício de memória e recordemo-nos que em novembro de 2017, o mesmo Presidente referiu que tinha “ouvido algumas vezes a preocupação de empresários e de gestores com o que”, a seu ver, “são sinais adversos ao investimento empresarial, quer nos impostos, quer nos custos de produção, que acabariam por introduzir ruído e alimentar perplexidades”, referindo-se de forma indireta ao muito discutido, na altura, aumento da Derrama Estadual.

Como eu penso que o nosso Presidente não auscultou o Sr. José Bonifácio acerca das dificuldades de gestão de stock que tem com a sua mercearia no fim da minha rua, ou o Sr. Lopes da Silva sobre a sua tasca à frente da igreja da minha paróquia, e o facto de só ter quatro clientes que apenas querem consumir vinho seco, deduzo que os empresários que chegaram a dar a sua opinião ao nosso Presidente foram os donos das grandes superfícies comerciais, das distribuidoras de combustível, empresas de telecomunicações, basicamente aquelas entidades elegíveis para pagar Derrama Estadual.

Eu que nunca trabalhei em nenhuma destas empresas com lucros milionários, tenho a impressão que os funcionários responsáveis pelo processamento dos ordenados devem chorar quando o ordenado mínimo nacional aumenta, é que devem ser dias seguidos a atualizar o salário dos “colaboradores” (termo técnico para dar a sensação que o vínculo do trabalhador para com a empresa é mínimo e muito efémero). É que parecendo que não, quando existem empresas e gestores a auferir milhões (sim também existem testemunhos de gestores a auferir mais de 1 000 000€ por ano), e por outro lado os tais colaboradores a receber o ordenado mínimo nacional, gera-se aqui uma desigualdade arrebatadora na nossa sociedade.

Daí eu compreender a existência e até mesmo o aumento da Derrama Estadual, imposto esse que não afeta as PMEs (99% das empresas da RAM por exemplo), como a tasca do Sr. Lopes da Silva ou a mercearia do Sr. Bonifácio, pois nenhuma dessas empresas tem lucros tributáveis anuais superiores a 15 000€, quanto mais 1,5 milhões de euros, que é o valor mínimo para entrar no grupo dos “piegas” que estão numa situação de miséria tal, que se viram forçados a fazer queixinhas ao Presidente da República.

Pergunto-me qual será a solução do nosso fotogénico Presidente para esta, como dizia alguém, “faca de dois legumes”? Já se sabe que se preocupa e muito com a subida da derrama para não “introduzir ruído e alimentar perplexidades” (que excelente expressão para dizer que uns senhores de gravata ficaram indignados com a hipótese de ter de compensar um pouco mais o país por escavarem cada vez mais o fosso entre os ricos e pobres), mas por outro lado fica muito envergonhado com o mesmo fosso criado pelas empresas que não querem pagar mais impostos e só não pagam salários mais baixos porque a lei não permite.

Realmente se governar fosse fácil, não estávamos na situação em que nos encontramos… penso que será mais fácil concorrer a Mr. Fotogénico 2016-2026.

LEONARDO REIS
Engenheiro

 

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