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Já ninguém duvida de que estamos em plena campanha eleitoral. Os partidos do arco do poder tropeçam entre si, içando as mesmas bandeiras e desenhando a cronologia sobre quem propôs primeiro esta ou aquela medida eleitoralista. E o que são medidas eleitoralistas? São medidas que, reunidas que estavam as condições para a sua implementação durante o mandato, foram deixadas para o último ano do mesmo, prejudicando severamente aqueles que delas já poderiam estar a usufruir. Para a política tradicional as pessoas contam quando cada uma representa um voto depositado nas urnas. E serão votos ponderados? Acredito que, desta vez, serão sim. Lá foi o tempo em que o povo se vendia por cabazes, festas e bolos. Pode enganar-se um povo durante um tempo mas não todo o tempo, diz o ditado.

Contudo, as campanhas eleitorais, principalmente as não oficiais como as que vivemos agora, trazem sempre algo de bom, pena que seja apenas de quatro em quatro anos. Fruto do desespero de quem vê o tempo a esgotar-se igual areia que passa entre os dedos, assistimos de forma inédita a um despejar de medidas governativas repentinas, a implementar já a partir de janeiro de 2019. O que há de diferente? Muitas das medidas tiradas da manga finalmente dedicam-se à classe média e outras tantas são transversais a todas as classes. E porquê? Simples. O Governo Regional sempre foi sustentado pela classe baixa, menos formada e informada, fácil de manipular, e pela classe alta, toda ela com vínculo direto ou indireto às malhas do poder, quer através de uma nomeação política, de um trabalho para o familiar ou de ajustes diretos feitos às cegas.

Assim se governou por muito tempo, sem grandes preocupações, porque a oposição era fraca e também não pretendia chegar ao governo. Porém, a Renovação apregoada não passou de um “flop” , sublinhado pela incapacidade do PSD segurar as Câmaras Municipais que deteve durante décadas de liderança autoritária. Perdeu terreno, influência, credibilidade. São frequentemente trazidas a público irregularidades nas suas opções governativas pautadas pela ausência de transparência no uso de dinheiros públicos e má-fé para com a União Europeia.

Devido à iminente transformação do painel de cores da Assembleia Regional, de onde sairá um novo Presidente do Governo, fruto do entendimento entre os partidos com mais deputados, o atual governo regional pretende comprar a classe média, numerosa mas imprevisível, atenta a todo o mandato e que não se vende à repentina dedicação à causa social. Tardaram a chegar as medidas de apoio à natalidade, tardou a chegar a redução de impostos, tardou a chegar a atualização de vencimentos congelados há anos, tardou, o governo, a mostrar que se importa… Já é tarde para o povo cair de amores, ser enfeitiçado, encantar-se… já é tarde para se enamorar de um projeto assente no pavor de perder o poder e não numa visão sustentada e sustentável do futuro da Região Autónoma da Madeira.

*Artigo de opinião publicado no Tribuna da Madeira / 23-11-2018

Patrícia Spínola
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