Infelizmente, a nossa cultura democrática e de cidadania ainda relaciona exclusivamente as palavras RESPONSABILIDADE e DEVERES com organismos e detentores de cargos públicos e políticos.
Décadas de um poder paternalista e o cultivo de alguma desresponsabilização trouxeram-nos até aqui e a uma ideia de que de um lado existem apenas direitos e do outro lado existem apenas deveres.
Esta realidade reflete-se em muitas áreas da vida em comum e na área ambiental de forma particular.
Com a proximidade do verão, é necessário que todos nós saibamos cumprir a nossa parte para que a época estival se faça em segurança e para que se evitem incêndios que acarretam sempre grandes custos ambientais, patrimoniais e, em casos mais graves como os que se verificaram nos últimos anos, ceifam vidas.
É hora de todos nós, em conjunto, olharmos para as nossas responsabilidades e encararmos de frente que a segurança é um dever de todos, principalmente daqueles que devem zelar pelo que é seu e não deixar que os seus terrenos se transformem em pasto fácil para o fogo e em armadilha mortal para as pessoas.
É claramente uma ilusão e uma demagogia pensarmos que as entidades públicas, nomeadamente as câmaras municipais, se podem substituir a todos os privados que se recusam a limpar os seus terrenos, apesar de várias vezes notificados para o fazerem.
A verdade é que nenhuma câmara tem meios para fazer face a uma intervenção desta magnitude, pelo que é essencial e necessário que cada um assuma as suas responsabilidades.
Uma responsabilidade que deve ser assumida não por medo de eventuais coimas, mas por um imperativo de consciência e de solidariedade para com os seus concidadãos.
Agora que ainda vamos a tempo de fazer a diferença para este verão, peço a cada proprietário de terreno por limpar que faça uma análise de consciência e que, sobretudo, assuma as suas responsabilidades.
Será sempre mais fácil cumprir com a limpeza dos terrenos do que depois se ver a braços com uma responsabilidade civil e criminal por danos que a não assunção de um dever pode acarretar. Isto sem falar na culpa individual e moral de cada um depois da tragédia consumada.
Não tenhamos ilusões, só uma ação concertada, em que cada um assuma as suas responsabilidades, pode garantir a segurança do nosso território e, com ela, a segurança de pessoas e bens face à ocorrência de incêndios.
Nesta, como em muitas outras áreas, não é praticável a desresponsabilização, o empurrar dos problemas, a acusação fácil, a briga de vizinhos, os desentendimentos e os braços de ferro.
Se todos nós optarmos por lavar as mãos, pensando sempre que alguém fará por nós o que deveríamos ser nós a fazer, haverá um momento em que uma força maior falará mais forte do que estas pequenas questões que nos consomem os dias. O fogo tem sido, infelizmente, uma força maior e tem falado mais alto que que a incúria e a irresponsabilidade.
Urge, por isso, uma mudança de atitude. Uma mudança de atitude em nome de todos. Até porque nas questões ambientais e de segurança comum, só um esforço coletivo é capaz de dar frutos e de assegurar um futuro onde os erros do passado não farão mais história.
*Artigo de opinião publicado no JM / 11-04-2018
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