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O dramaturgo e romancista irlandês George Bernard Shaw escreveu que “a democracia muitas vezes significa o poder nas mãos de uma maioria incompetente”. Das várias áreas de atuação da governabilidade regional, acrescentarei um leve e curto raciocínio sobre a problemática da cultura, e sobre aquilo que considero ser o exercício de “600 anos de redescobrimento de incompetência”.

Recorde-se que o Governo Regional da Madeira, conforme Resolução n.º 243/2017, criou uma estrutura temporária designada por “Estrutura de Missão para as Comemorações dos 600 anos do descobrimento da Madeira e Porto Santo”. E começou logo mal, porque a ter em conta a História, seria Estrutura de Missão para as Comemorações dos 600 anos do descobrimento do Porto Santo e da Madeira, e não o contrário.

A Resolução refere, implicitamente, a necessidade de garantir o alcance “nacional e internacional, capaz de catapultar o nome da Região Autónoma da Madeira como fonte de cultura, história e saber”.

A referência à “fonte de cultura, história e saber” implica, necessariamente, rigor, cientificidade e credibilidade. Todavia, a Comissão Executiva da Estrutura de Missão para as Comemorações dos 600 anos (adiante referida de Comissão) não reúne, por exemplo, personalidades com formação científica em História. O resultado tem sido um desastroso amadorismo e considerável incompetência na gestão de uma efeméride que se celebra de cem em cem anos.

Para a presidência da Comissão Executiva, o governo regional escolheu o licenciado em Direito Guilherme Silva que, a julgar pelo perfil descrito na citada Resolução, personifica uma “individualidade de reconhecido mérito nacional e internacional, no âmbito histórico ou cultural”. De Guilherme Silva conhecemos a influência partidária e de lobby político. Da sua carreira histórico-cultural, não há memória.

A metodologia e as atividades da Comissão, salvo raríssimas exceções, têm primado pelo experimentalismo primário efémero, erros grotescos, amadorismo e carência de idoneidade. No final de 2018, a fatura já ultrapassava um milhão de euros.

A Comissão diz que preparou e chegou a apresentar publicamente um programa comemorativo, sem antes porém colher a opinião do Conselho Consultivo (órgão constituído por 21 membros, dez deles designados pelo presidente do Governo Regional, e os restantes designados pelo presidente de cada município e por esta Assembleia). Ignora-se o coletivo e a discussão plural, em detrimento de meia dúzia de seres pensantes.

Resta-nos louvar a programação da RTP e da RDP Madeira que, ao abrigo do esforço da interdisciplinaridade, mostra mais habilitação e capacidades.

*Artigo de opinião publicado no Jornal Económico / 24-01-2019

Élvio Sousa
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